Desgaste Natural

Sou os ossos desgastados

e meu coração opaco é espasmo

os olhos olham sem foco

e reparam os zunidos ultrassônicos.

A árvore é a madeira desgastada

e seu passos inertes e imóveis

contentam seu peito oco

e seus cabelos são flores de ipê.

O pássaro é o sobrevoar desgastado

e seus gorjeios canoros repicam

e suas cores salpicam os céus

enquanto voa em vácuos intermitentes.

Sou ossos osteoporóticos

e pulmões asmáticos e cansados

mas os olhos vagueiam as estrelas

e os cometas são os rastros de banimento.

É tudo uma velha carcaça em decomposição

pais e filhos e árvores e os rios continuam

da seiva da terra o ósculo do magma

e as pedras derretidas continuam continentes.

É um planeta vivo-morto querendo um abraço

querendo uma poesia de restituição

os cerrados desejam o retorno do lobo guará

e meus jardins sequestraram as borboletas.

Enquanto isso eu deterioro um pouco mais a cada respirar,

enquanto isso eu morro essa vida eterna lentamente

e vejo meu ser se desfazer em pó da terra

e vejo o mundo girando nessa incompreensão pueril...