De Tanto Olhar Adormeci

Olhava os pássaros

de penas tenras

e meus pensamentos velutíneos

amaciavam cantos tudescos.

Olhava as flores

de pétalas aveludadas

e as borboletas deslizavam

em devaneios plácidos.

Olhava o vazio do mundo

e minha mente transbordava

e se ramificava trespassando

as raízes da árvore cabalística.

Olhava e já não via nada

minha retina borbulhava alucinações

mas as cores já eram mortes

e se misturavam em senil arco-íris.

Olhava e olhava e olhava

com a visão púrpura da alma

enxergava auras e corações,

universos inteiros se colidindo.

E o gérmen vital renascia

e estrênuo rasgava o ventre

e respirava o ar da liberdade

e metamorfoseava-se vilipendioso.

E eu olhava essa dança inenarrável

e já não sei o que eu via, se era a boca da noite

ou se era a boca do dia, faminta

engolindo os homens rotineiros e monótonos.

Olhava e adormeci com imagens extenuantes e pitorescas...