ANJOS

Um anjo me apareceu. Era onze horas.
Estranhei, pois anjos não chegam de manhã,
nas horas menos oportunas.
No mais das vezes ficam perdidos
em demoras de trânsito,
alheios às verdades do coração,
enredados em devaneios.

Anjos da manhã prometem fortunas,
mas entregam apenas ilusões.

No entanto, era onze horas
e ele estava ali.
Relutei em estar disponível
para anjos incertos. Anjos
que nada sabem de mim,
nem das pessoas que perdi.
Muito menos sabem dos arranjos
que tentei para ser feliz.

Anjos da manhã de nada sabem das estrelas
que ficaram pelos caminhos...
Sequer sabem das promessas que fiz,
das maldades que cometi.

Confio apenas em anjos noturnos.
Íntimos, já desafiamos o destino
e nos prometemos o encontro final.
Serei, então, novamente o menino
e ele, anjo noturno, estará à minha espera
no espaço mais confortável da vida
passada. De mãos dadas,
invadiremos o por do sol
numa bela tarde de primavera.