[Meu Acalanto, ou o meu Alento]
Entardece rapidamente no Desterro...
Para me consolar de certas distâncias, eu respiro comprido... eu crio... eu imagino gritos de angolas voltando dos pastos, ruflar de asas buscando pouso nas árvores do quintal, curiangos dando os primeiros rasantes, o rego-d'água demudando o seu canto para os tons noturnos, e já na escuridão que esconde as formas das coisas, o resfolegar comprido de um cavalo mais ao longe...
Precisar eu até precisava muito, mas não há uns dedos macios sumindo-se nas ondas dos meus cabelos...
Assim, o meu acalanto [ou o meu alento...], nessa hora lenta, o mais essencial, é feito de coisas assim, e não da pressa nervosa dos carros, das gentes que saem do tripalium que tanto detestam...
Cada um, cada um — ‘maginando assim, impossíveis retornos, também eu tento me recolher do mundo, das coisas, das pressas, enfim! A horinha vem mesmo chegando...
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[Desterro, 28 de setembro de 2012]