SORRATEIRO NA NOITE

Eu caminho sorrateiro na noite

Nesta estrada antiga repleta de trevas

Antigos segredos em suas margens

Velhos olhares amarelos me perseguem

Eu caminho esquecido de trunfos

De armas...

De planos...

Eu caminho...

Segue em meu rastro o vento da noite

O açoite do sul tão andarilho quanto eu

Sinto no ar o odor da magia

Coisas velhas...

Papiros e tratados...

Sombras...

Morte...

Não há mais ninguém no mundo esta noite

A vida noturna hoje sou eu...

Não há mais ninguém...

Já houve?

Haverá?

Eu caminho zombeteiro na noite

Pronto a discutir dogmas

Pronto a questionar ideias

Certo de que posso zombar da fé

De que posso confundir os incautos

O céu tem estrelas que me observam risonhas

Acompanham meu trajeto sem esforço

O céu sabe que hoje a noite é só minha

E ele sabe que quero meu premio...

Eu caminho na noite e estou bêbado

Estou ébrio e zonzo...

Trôpego

Eu caminho na noite cambaleante, mas sem álcool.

É minha alma que permanece encharcada de tolices

De rotinas...

De mesmices...

Eu caminho na noite sem fardo sem peso

A estrada é longa...

A noite é longa...

Eu caminho na noite sem rumo

Sem desejo vil de obter respostas

Eu ignoro as placas e informes

Eu ignoro as rotas que orientam

Esta noite é minha

Não quero me achar...

Quero é ficar perdido.