Tantos sonhos que não deram em nada
Que agora vou andando, mãos nos bolsos.
Sem qualquer apetite para sonhar
Imaginando um horizonte menos torpe
Talvez uma caverna onde possa hibernar
Se alguém souber o endereço certo
Onde poderei guardar as minhas inquietudes
Avise-me, antes que a morte me visite
E meu sorriso, para sempre triste
Não mais me resgate do maior abandono.
Ando tateando no escuro, (a poesia não me alumia)
E a sina de viver em lassidão dia após dia
Não me alimenta a fome sem descanso.
Eu queria ter sido Imperador do maravilhoso
Maestro do espetacular
E não nadar nas ondas da vizinhança
Cansar e me afogar.
Nem o repouso da estelar praia
Galáxia lançada no mar interestelar
Eu diviso doutro lado do visor
Desta nave arruinada
Destas pernas estropiadas
Desta boca em ânsia de praguejar.
As mulheres não me suportaram
Disseram-me incompleto (robô antiestético)
E rumaram para os ninhos d’além mar...
E o meu peito, martirizado.
Em toda esta tragédia grega de equívocos
Não teme a dor, nem o insanável defeito.
De viver a verdade antes da mentira
Nos salões da casa do sem jeito.