Quando um caminho virou o outro.
A caminhada é minha, é sua, não importa.
Nossos caminhos nunca se falam, nunca se sentem,
só caminham. Só caminham.
Tem vezes que parecem se sorrir, parecem se seduzir,
mas não passam de bobagem, pura miragem,
pura bobagem.
Por outras vezes até ameaçam se untar,
como elos da mesma corrente, como tijolos do mesmo paredão.
Outra vez, sua farsa não se diz rara, nem distante, só fadiga,
só fadiga.
Nossos caminhos se irmanam no mesmo vazio que os separa,
se embalam num vão atracado, num fosso do nada,
perdidos num imenso descampado pra sempre,
sim, para sempre.
Talvez um dia venham a beber da mesma fonte,
talvez até venham a bailar sob o mesmo luar.
Mas existe algo que os une,
e os faz correr cada um pro seu lado,
que é maior que nós, maior que eles, até.
Sua dicotomia fareja com as lajes frias e secas da nossa solidão,
a nossa solidão de nós dois.
Por mais que teimarmos fazer a festa,
o tempo dirá chega, porque a hora ainda não veio.
Os ventos teimarão em fazer a corte,
o silêncio soltará suas amarras em cada vértebra do nosso suor.
Então nossos caminhos se abraçarão feito palha do mesmo fardo,
feito urro da mesma dor, feito leque no mesmo sorrir.
E virão de volta pra nós embalados numa paixão que até Deus duvida,
porque nem Ele a terá por certo algum dia.
Nessa hora tudo ficará menino, tudo ficará som,
tudo ficará flor, tudo ficará paz.
E os nossos caminhos se atracarão um ao outro sem medo,
sem tremer, sem descarrilhar, sem engasgar como outrora.
Assim a gente não precisará mais se escorrer, se repreender,
se furtar da nossa própria alegria, da nossa própria tradução.
Porque, por fim, nossos caminhos encontraram o seu caminho.
Exatamente um dentro do útero do outro,
um dentro da alma do outro,
um virou o outro, amém.
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