Alvoradas do Porvir
Angústias vorazes, mas que por vezes ensinam
Vede como belos os monstros de que foges são
Abruptos e indiscretos talvez; mestres sem sermão
Admirai: pois infortúnios ferem mas iluminam.
Tal qual tempestade, bradam prenúncios de destruição
Testam-te apenas; suprema prova de redenção
Pois eis que surge, de cada morte sem volta,
Vidas renascidas a cumprirem uma justiça a nós torta
E perfeita.
Olhai sem ressalvas, observai a grandiosa lição
Que ditos inimigos a todo momento nos dão!
Enxergai que os mesmos restos decompostos de morte
São os nutrientes necessários à planta perene e forte!
Vê que sem o fogo a limpar campos sem amor e com aspereza
Novos campos não seriam tão belos, nem tão romântica a natureza!
Temos em nós restos da chama de tudo o que houve
E acima de nós a faísca de tudo que será.
Nem uma folha perdida, nem um tronco arranhado
Pois a cada incêndio florestas inteiras retomam seu lugar.
E é então que percebemos, sem fala
Que cada enfermidade do corpo gera uma cura para a alma
E, diante de nossa pequenez constatada
A grandeza de nosso mundo deslumbra, afaga e acalma
Sigamos pois os ditames de sabedoria milenar
Percebamos ainda agora uma sublime oportunidade
De tudo suportar para contudo ao alto se elevar.
De nada julgar sem antes de mais nada observar
Para os nossos lares de uma manhã sem tarde
Para a grandeza de uma doce eternidade.