EPITÁFIO

Neguei de ti as verdades,

varri as ruas de tua memória

e me vi tua cópia escarrada.

Já que sentenciastes teus processos de corpo

teu instinto fareja o mofo

de sonhos nunca permitidos à tona.

Faltou lenha para embalar teu adormecer

quando descarrilou a locomotiva da realidade

no cochilo distraído do maquinista.

Amei tuas letras cadentes,

estrelas foscas perdidas na escuridão,

palavras decaídas de joelho.

Nas escadarias intermináveis,

minha prece, minhas culpas

contritas nas entrelinhas profanas.

Quem vai atrasar o gatilho da estação,

se teus sonhos ondulam na relva

aprisionados na coxilha ancestral?

As andorinhas gritam em bando,

anseiam romper a tua invernada,

teu sol da madrugada.

Quem irá cerrar tuas pálpebras

após o epitáfio de cada dia

se tua lágrima petrificou como magma?

O suco de teus frutos amargos

rola pelos sulcos das faces da moeda

sobre pedras de teu seio no seio da terra,

fecunda a raiz de meu sonho de sol

derrete a neve de minhas searas

encharca o cio de minha terra.

Rose Tunala
Enviado por Rose Tunala em 24/09/2012
Código do texto: T3899363
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