EPITÁFIO
Neguei de ti as verdades,
varri as ruas de tua memória
e me vi tua cópia escarrada.
Já que sentenciastes teus processos de corpo
teu instinto fareja o mofo
de sonhos nunca permitidos à tona.
Faltou lenha para embalar teu adormecer
quando descarrilou a locomotiva da realidade
no cochilo distraído do maquinista.
Amei tuas letras cadentes,
estrelas foscas perdidas na escuridão,
palavras decaídas de joelho.
Nas escadarias intermináveis,
minha prece, minhas culpas
contritas nas entrelinhas profanas.
Quem vai atrasar o gatilho da estação,
se teus sonhos ondulam na relva
aprisionados na coxilha ancestral?
As andorinhas gritam em bando,
anseiam romper a tua invernada,
teu sol da madrugada.
Quem irá cerrar tuas pálpebras
após o epitáfio de cada dia
se tua lágrima petrificou como magma?
O suco de teus frutos amargos
rola pelos sulcos das faces da moeda
sobre pedras de teu seio no seio da terra,
fecunda a raiz de meu sonho de sol
derrete a neve de minhas searas
encharca o cio de minha terra.