Desafinado coração.

Queria ouvir, como queria,

a voz do meu tempo, o gozo das minhas ideias,

o parir de todas minhas saudade, mas não consigo.

Queria abraçar os meus pelos ainda cambaleantes da fé,

queria desvendar o que está por trás de cada paixão,

queria até ouvir o que nunca me será dito,

mas não consigo.

Queria alinhavar

as tantas faces do tempo, o silêncio rouco da minha raiva,

as ancas trêmulas dos meus medos, tantos medos,

mas não consigo.

Queria ser capaz de me cuspir forte,

desossado, descabelado, desnudo dos meus senões,

mas não consigo.

Quanto mais tento remexer os calabouços quebradiços dos meus

vazios,

percebo-me atado ao que nunca entendi, mas sempre purguei

em lépidas fungadas da alma.

Vejo-me no novamente envalado num torpor menino,

na vala enferrujada dos meus sonhos,

da minha razão, do meu desafinado coração.

Então, acordo.

Sacudo meus trapos, meus ossos, enxaguo todo meu sangue,

um por um.

Vejo, por certo, que consigo erguer cada teco esquisito que se diz

meu, que se diz de mim, que se faz grudado em algum canto meu.

Então olho pra tudo e rio, como sempre quis, como sempre sonhei.

Assim, vivo e revivido,

retomo meu caminho.

Feliz como nunca, feliz como sempre.

Feliz, bem feliz.

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Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 24/09/2012
Código do texto: T3899041
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