TRAJETÓRIA SONOLENTA
Debruçada sobre minha inquietação,
colhi flores no jardim alheio.
Bebi cicuta adoçada com mel,
reparti versos de uma canção completa
e me vi inteira quando me achava pela metade.
Roubei a maior estrela, segui o rastro do vaga lume,
me enforquei com as linhas que costuram o poema,
me vi só em meio a multidão
e fiz da minha sombra, companheira.
Ouvi sermão com o ouvido ensurdecido,
andei na corda bamba já sem pés e sem apoio,
bebi o sol da madrugada que me visita as escondidas
e voei feito pássaro de gaiola sem sair do lugar.
Fiz da inquietação o lugar de agora
e da insanidade, a trajetória lógica e possível,
dando de cara comigo nas esquinas vazias,
nos lugares infindos por onde voo e passeio
sem deixar vestígios.
E nos relógios da lua, vigio o meu tempo,
seguindo sempre adiante com os olhos no infinito
e no embalo doce do vento...