Angorá

Ali, no canto da porta

Na sombra e sobre o cisco

Olhos cortados por uma pupila vertical e negra

Dentro de um verde cambiante

Ali, quieto, a cauda em repouso

Os bigodes pensando

A boca sorrateira

Ali, impenetrável sob um pelo entre o cinza e o fulvo

Empoeirado, fosco

Aquele velho angorá

Pensava bobagens

Criava mundos e desmundos

E com aqueles olhos de ver o não permitido

Em tudo me fez ver sentido