ALTURAS

Eu já não explico as vozes

Não... não mais...não as vozes

A muralha que transpus abateu meu espirito

Esfacelou o ego...

Sem chamas... sem auges...

Não vi vitória aqui

Eu já não persigo o sonho

O onírico morreu esta noite

Agonizou no fim...

Em estertores brutos

Eu vi...

Assisti paciente

Eu já não faço mais parte daquela historia

Nem da tua...

Nem da dela...

Nem de qualquer outra...

Sou conto inacabado

Tropecei num fim prematuro

Um clímax inesperado quando a noite ainda era jovem

Não verei novos dias

Não viverei novas sagas

Se é que as vivi alguma vez...

Eu já não reconheço o tempo

As horas são promessas vazias

Lembranças confusas...

Qual sua importância?

Para que serviam?

Para que serviram?

Para que servem?

A quem servem?

Eu já não leio Ginsberg

A poesia não me inunda

Tem algo morto em mim

Algo que se decompõe

Que me invade...

E machuca...

E o amanhecer esta tão longe ainda...

Tao, tão longe...

Eu já não admiro a vista

O topo e tão árido...

O topo e tão frio

O sucesso é tão solitário

Os motivos parecem tão tolos

Tola é a vontade que me move

Tolo é o medo que me detém

Tolo e o desejo que persiste

Tola a flor

Tolo sou eu

Eu já não explico mais as vozes...

Abafo a consciência teimosa

Eu calo

Estou no topo lutei pelo topo

Conquistei o topo...

E só quero voltar ao chão.