[Questão do Ver Direto]
[Quem disse que eu quero ser compreendido?!]
Sob uma quase oculta "pressão semântica",
e sem mudar a sua cara habitual,
alguns verbos demudam o modo de ser...
Sua regência, antes indireta,
exigente, refinada, passa a ser
escancarada, direta, reta
— sem a vaselina [o KY?] da preposição!
Vulgar... vulgar! Clamam aqueles
que se recusam aceitar o defloramento
preposicional de assistir...
Preferem o ver já deflorado, direto...
São voyeurs contumazes de antiguidades!
Eu, que sou menos que um cão,
[pois sei que vou morrer],
que nada entendo dessas coisas,
e já vivo em outras transições,
fujo dessas questões semânticas!
Busco o sentido direto do que há
entre mim e quem me quer...
que seja por um módico aluguel!
Não cederei a nenhuma oculta
pressão semântica do passadista amar
que já foi até chamado de intransitivo...
Agora, alugar sim, alugar é que dá conta
da excitante impermanência do gostar!
Decidamos já: ou eu me alugo a ti,
ou tu te alugas a mim... ou antes:
aluguemo-nos... mutuamente!
Ah, mas com uma condição:
na regência direta, sem nenhuma
preposição de orelhas a nos tapear!
A nossa questão é uma só:
Ver... ver direto, sem contemplar,
que nunca tivemos futuro!
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[Desterro, 21 de setembro de 2012]