A Carta
Resolvi te escrever
unicamente
por ter a certeza
de que você não lerá
caso contrário,
jamais escreveria
simplesmente
Passou-se mais um dia
e que é mais um dia
em meio aos anos
de desamor e desenganos
em que estamos todos mergulhados?
Nada de mais
Nada de novo
Apenas olhar e vislumbrar
De longe, você passando
Tão rápido que já se foi
Tão indiferente
Que quase estranho
Tão distante
Que já não é
E ainda assim
Te amando apesar de tudo
Sofrendo, enfim o absurdo
De um amor doente de si mesmo
Lançado ao chão, esquartejado
Moído, ferido, plástico
Arrebentado
E ainda assim amor
Que se ilude de brincar que já não sente
Que insiste em se enganar que não existe
Que brinca de se declarar em cada gesto
Em cada silêncio, em cada verso
Triste
De cada carta que não escreveu.