HÁ DE EXISTIR DEUS

HÁ DE EXISTIR DEUS

Há de existir o céu

Que os atormentados

Vivem aqui, sob véus

Amando envenenados

Há de existir Deus

Sem sua existência não se explica

O sofrimento dessas almas em vida

Por um amor tão seu

E esse amor que os condena

Esse amor é de Deus

Não pode ser amor humano

Não pode ser coisa do homem

Esses amantes transtornados

Com seus desejos flamejantes

Por um ser amado inventado

Retirado de velhas estantes

Há de existir Deus em algum lugar

Para aparar as cabeças desses abnegados

Que sofrem por amor, sem parar

Sem nunca terem seu amar encontrado

Que amor será esse, o dos apaixonados

Que nunca sacia com nenhum outro?

Será amor próprio dos loucos?

Será amor amar sem ser amado?

Ah! Que dor me dá vê-los sentados

Apáticos, olhando a vida que passa

Em uma lembrança antiga mergulhados

Sem perceber como rápido tudo se acaba

Então há de existir Deus

Para recebê-los no paraíso

Para transformá-los em anjos

Ou coisas parecidas a isso

Mas o que fará o Deus

Com aqueles que não resistem

Que se findam sem Deus

Que não suportam o desamor em que vivem?

Com suas navalhas afiadas

Suas pistolas douradas

Seus venenos sempre à mão

Cansados de suportar o coração

Esses amantes sem solução

Não possuem nada

Não vivem de nada

A não ser do coração

É sangue jorrando o tempo todo

Alimentando o corpo exaurido

Que se alimenta da esperança

De um amor nunca vivido.

Há de haver Deus

Esse Deus de amor

Para dar-lhes, enfim

Descanso para a dor