Tu, eu
Eis-me aqui, devoto a teus caprichos,
Andando entre os pedaços de árvores secas
Como o desesperado por água em quilômetros de areias.
Eis me aqui, cheio de ausência e dormindo em terra de estranhos
Jovem para já ter certeza.
Eis-me aqui, servindo de teu banquete;
Cortado em pedaços,
Degustado aos poucos,
E partilhado por teus desejos.
Eis-me aqui, disposto a dormir ao teu lado de olhos abertos,
Velando teu medo e apaziguando tuas expressões para o futuro.
Eis-me aqui, disposto a sangrar.
Tecendo.
Eis-me aqui, esfomeado de sentir de novo tua pele,
E, ao fazê-lo, disposto a morrer por isso.
Eis-me aqui, de mãos atadas escorregando entre não sentir mais nada
E depois explodir.
Eis-me aqui, cheio de demônios e sentenças,
Observando tua fala, apartando o mal que posso te causar.
Eis=me aqui, sonolento, sem piscar, sem perder um ruído,
E entregue ao que eu já nem sinto.
Eis-me aqui, olfato, paladar, visão, audição e tato
E nervos de aço para te acalmar.
Eis-me aqui, me desfazendo no arco,
E nas esquinas escolhidas por ti.
Eis-me aqui, ventania de arrependimento
por não degustar teu ventre, teu vinho e tuas noites mal dormidas.
Eis-me aqui, cheio de ti e de tudo que carregas
em tua boca, em teus papeis amassados e nos enfeites da tua roupa.
Eis-me aqui, aculturada e desnuda,
estátua projetada diante dos teus olhos.
Eis-me aqui, disposto a rasgar a carne e depois dormir sossegada a teu lado.
Eis-me aqui, agora, vivo de erros e passos mal dados,
andando, caminhando, correndo por tua sombra.
e você.