Tu, eu

Eis-me aqui, devoto a teus caprichos,

Andando entre os pedaços de árvores secas

Como o desesperado por água em quilômetros de areias.

Eis me aqui, cheio de ausência e dormindo em terra de estranhos

Jovem para já ter certeza.

Eis-me aqui, servindo de teu banquete;

Cortado em pedaços,

Degustado aos poucos,

E partilhado por teus desejos.

Eis-me aqui, disposto a dormir ao teu lado de olhos abertos,

Velando teu medo e apaziguando tuas expressões para o futuro.

Eis-me aqui, disposto a sangrar.

Tecendo.

Eis-me aqui, esfomeado de sentir de novo tua pele,

E, ao fazê-lo, disposto a morrer por isso.

Eis-me aqui, de mãos atadas escorregando entre não sentir mais nada

E depois explodir.

Eis-me aqui, cheio de demônios e sentenças,

Observando tua fala, apartando o mal que posso te causar.

Eis=me aqui, sonolento, sem piscar, sem perder um ruído,

E entregue ao que eu já nem sinto.

Eis-me aqui, olfato, paladar, visão, audição e tato

E nervos de aço para te acalmar.

Eis-me aqui, me desfazendo no arco,

E nas esquinas escolhidas por ti.

Eis-me aqui, ventania de arrependimento

por não degustar teu ventre, teu vinho e tuas noites mal dormidas.

Eis-me aqui, cheio de ti e de tudo que carregas

em tua boca, em teus papeis amassados e nos enfeites da tua roupa.

Eis-me aqui, aculturada e desnuda,

estátua projetada diante dos teus olhos.

Eis-me aqui, disposto a rasgar a carne e depois dormir sossegada a teu lado.

Eis-me aqui, agora, vivo de erros e passos mal dados,

andando, caminhando, correndo por tua sombra.

e você.

Jana Canuto
Enviado por Jana Canuto em 18/09/2012
Reeditado em 27/06/2013
Código do texto: T3888042
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