Grito
Grito
Se eu não pudesse gritar, adormeceria...
E versos por mim, gritariam secos de dor.
E num lamento triste, quase absurdo,
Correria pelo mundo ajoelhado e mudo.
Mudo de cor, feito camaleão.
Temo ingratidão às avessas...
E tudo que é torto,
Tudo que não tem ritmo
Tudo que é intrínseco
Até o paradisíaco
Tudo que não é transparente.
Tudo que é íntimo sem ser compartilhado (poeticamente)!...
Tudo que é guardado em gavetas, cheira mofo
Tem cupim e traças
Encontraste em gavetas tranças?
Odeio o efêmero
E críticas vãs que não levam a nada.
Amo palmeiras...Sou midas nas mudas...tantas...
Se ouço canto de passarinhos? Sim ouço a algazarra dos piares
Eles fazem ninhos em minha cabeça, aos milhares...
Sinto o amanhecer em meus olhares....
Prefiro luares....
É. É assim que sou....Repleto de deuses... interiores
Todos que deixaram marcas em mim, se tornaram deuses
E por eles rezo e me multiplico
Sou múltiplo ao senti-los e porque não dizer, devorá-los.
Sou leão faminto, quando tenho sede de fome
E ninguém doma palavras... isso não é um circo
Nem tampouco, laboratório, onde se faz experiências com ratos.
Curto-circuito...
Somos fato da cruel realidade, queira ou não queira...
Se não quiseres, vê-la? Cale-se. Beba cálice de vinho.
Não cegue meus olhos e ouvidos ouvindo asneiras...
Asneiras adormecidas...de salto alto e chinelos...
Olhem para suas orelhas que é a única coisa que cresce
No corpo humano, depois que tudo cai....
Abstrato e obsoleto sob viadutos, sarjeta e asfalto
Olhando os carros trafegando na contramão, viajo.
Sem entorpecentes...sem crack.
Não sou santo. Se quiseres rezar, terás boa companhia.
Navalha na carne
Ponta afiada
Corte...
Queres sorriso?
Mire-se no espelho
Não veja o teu reflexo
Veja o espelho que está a tua volta
E nada é encantado....
Tudo é turvo...é breu, penumbra
Sem falar em catacumbas
Para onde, todos nós iremos um dia.
Mesmo assim canto, e Missa celebro, de joelhos.
No delírio da minha insensata loucura.
Não vou ficar adocicando mel sem favo.
Queres sorriso? esboce,
Eu grito.
Num salto alto que escuto
Não sinto-me surdo.
Alem de todas as barreiras
E fronteiras que viajo.
Naufrago em cada sílaba vã
Encontro-me no cais...
Dos vãos caminhos em tropeços
Escrevo versos que não conheço
Me desconheço em versos.
Não saem da minh'alma
Saem de ti que não sei a quem pertence
E de mim fazes instrumento, e o sigo a risca...
Como pressentimento. Calo e gritas...
Quem não ouve conselho, ouve coitado
Minha avó dizia.
Palavras não são conselhos, aconselhariam...
Os muito loucos de si que em si não cabem.
Adentram as portas dos outros
E outros adentrando suas portas...
Lâmina afiada em meu corte
Sangrando gelo em vez de sangue
E espumando labaredas
Filhos do silêncio?
Vou sangrando....Até a morte, sem corte.
Queres sorriso? Esboce...
Eu grito.
Tony Bahia.
Visitem as páginas de Adah e Almma, que me inspiraram essa poesia.