CUIDA(DO)AMOR
quando o amor está muito,
fica extremamente impossível deixar de cometer loucuras:
ah, quanta vontade de casar!
Quando este amor, ainda pouco definido,
apesar de arrebatador e amigo,
atende pelo nome de “paixão”,
todo cuidado é um fato:
o risco é muito grande para cometer qualquer que seja a insensatez,
deste o entretenimento exagerado e convulso dos hormônios
até gastar todo salário em bangalôs sob medida pro amor,
prontinhos para solucionar casos ainda não resolvidos.
Quanto este amor, com jeito tão maduro,
diz nominhos em meio a discussões,
muito cuidado:
o risco dele se tornar pai, mãe ou filho, por mais familiar que pareça,
é tão surpreendente quanto dividir a privacidade da única casa,
onde pais, mães e filhos emprenham-se do mesmo cheiro
até virarem amigos em função de tamanha intimidade.
quando o amor está em excesso,
fica extremamente insuportável não assumir loucuras:
casar, por exemplo, é uma primeira
certeza que nasce
junto à vontade de dormir e acordar com os mesmos cheiros
jurando, desnecessariamente, toda longevidade do momento,
sem precisar viver a fidelidade recíproca nos sonhos.
O amor, quando inteiro, confia
e sabe que o adultério é seu haraquiri.
de noite,
quando, geralmente, avoluma-se a liquidez do gozo,
o amor engravida-se dos problemas do dia-a-dia
e conversa incansável até os braços dormirem
abraçando todas as prováveis soluções.
acorda e brinca
de bem com a alma que sorri
e saí para a rua com cara de bobo-feliz.
Mais tarde, muito tarde então,
os enamorados que cuidam da paixão
despertarão para os primeiros poucos encontros,
atentos aos pais, aos avôs e aos mais velhos,
perceberão que o amor não acaba na rotina do costume;
pois, amor quando é amor,
é imune ao tempo de quando foi gerado
e, transversal, quando verdadeiro, passeia pela vida.
Assim,
os olhos-noivos-vesgos ,
brincam de afagos nos umbigos,
e irreverentes, prontos para o amor,
cometem sua última loucura:
beijam-se ante o padre ou do juiz-de-paz
e casam-se abortando a idéia da separação.