NOMES

Davi,

pode ser:

é vida na via hereditária

do caminho da estrela à Salvador...

Diana,

pode ser:

é caçadora de olhos-esmeralda

de passos tão guerreiro quanto os de Oxossi...

João,

pode ser:

é o nome sem cara do estado Brasil

com pernas secas-tortas no drible, qual as garrinchas...

Luíza,

pode ser:

é a vaidade de mulher-menina para a casa

mais refletida que os espelhos da Oxum num sol de fim-de-tarde...

(risos de casal)

Amanhã, contaremos para ele

— ou para ela —

a cara feia que fazias quando enjoavas;

e bela, vomitaste tanta beleza,

que te intimidaste, até enciumaste, da lua cheia

armazenando ternura em todas barrigas crescentes!

Amanhã, contaremos para ela

— ou para ele —

a cara de bobo que ficaste de surpreso;

e terno, perdeste a pose da ternura mansa

quando resolveste gritar, sem escarcéu, para o mundo

a mais íntima das revelações: o meu espaço está cheio do filho teu!

(risos de casal)

Aira,

pode ser:

é a volta do poema “toda lindeza da mulher”

para quem te chamou de índia-mestiça-branca-baiana.

Pedro,

pode ser:

é a segurança de todas as palavras sensatas

da emoção na primeira-pedra desta sólida construção.

(risos de casal)

Amanhã, contaremos para ela

— ou para ele —

das noites pouco dormidas quando a perseguíamos,

para que a própria espera encurtasse

mesmo te amando tão bem grávida,

via um filete de maresia escorrer num canto dos teus olhos

olhando o berço vazio, já, recém-comprado.

Amanhã eu vou contar para ele

— ou para ela —

dos dias, raros, acordados quando saíste da nossa casa,

para que nenhuns dos desejos ficassem vagos

mesmo te querendo aqui tão perto,

vi uma ruga feliz de maturidade cravada num canto dos teus olhos

sem relógio de pulso, trazendo-me maracujás.

Vinícius,

pode ser?:

ah, como queria chamá-lo Vinicius!...

Mas, andam dizendo por aí, que nome de poeta dá azar!...

E Clarisse,

pode ser?:

ah, como queria chamá-la de Clarisse!...

Mas, dizem por aí, que ela será mais uma das tantas Clarisses tristes!...

(silêncio quase solene do casal)

Amanhã, diremos para ele

— ou para ela —

que tenho um medo deste Brasil tão mal-feito,

mas que me orgulharei tanto deste brasileiro-cidadão!

Amanhã, diremos para ela

— ou para ele —

que tenho medo dos amores na primeira esquina,

mas dela me orgulharei por ser fruto dum amar bem achado!

Amor lindo,

pode ser Maria?...

Amor meu,

pode ser José?...