O CHOCOLATE AMARGO E A LAGARTA-DE-FOGO
no tempo do eu pequenino,
os meninos da rua
riram de mim
quando, de pernas tortas, desaprendi futebol.
não era branco nem negro;
mas sobre a pele havia uma lagarta-de-fogo,
sensível e vulnerável,
afogueando a carne ainda fria:
ossos remoídos deste ser quase indiferente.
Pedi perdão pelo riso dos meninos,
tão desavisadinhos,
que desdenharam do diário exercício
de escrever no pique-esconde,
de morder a dois um pão-de-mel,
de trocar de braços na quadrilha Junina,
ou de tocar a língua no chocolate amargo!
Fui o traço afoito
do dedo ao livro
a caminho do escritor,
roto e esfarrapado,
que hoje sou.