A ILHA DE TODAS AS CONCHAS

do outro lado da baía

há um sol

indiferente

aos raios brilhosos da língua

no céu-da-boca amarelado

pelo caldo de sururú ou lambreta.

O samba é de roda,

o bê é maiúsculo;

no sobe-e-desce das ladeiras,

há a paz calma dos molejos

dos rabos-de-olho às bundas indisfarçáveis.

do outro lado da baía

há a ilha

indiferente

às terras agarradas aos continentes,

há um peito aberto ao mar, com ares nus,

levando em si sudoestes, saveiros e jangadas.

O fá, aqui, é de farinha,

a fé, aqui, descarrega os ateus

na língua do pê com samba no pé,

no sobe-e-desce torto das procissões

há uma escadaria de perfume pós-lavagens,

um padê-de-Exú abrindo caminhos a todos santos-erês!

No outro lado da Bahia

haverá sempre uma baiana

justificando o silencio das estrelas

impiscáveis neste céu de fim-de-mundo.

Toda menina daqui

tem um cheiro igual ao de Deus,

que os Orixás espalharam

pelos quatro cantos da Bahia

- com bê grande ou bê pequeno –

com cheiro de vida inteira,

onde a mistura da mulher amada fez a morada

dos segredos ao desapressado homem quieto

como as conchas guardadas pelo mar!...