CAVERNA DE CARNE

Sou o sangue pulsante

apertado numa veia curta

de vermelho quente

Sou o ar convergente

para pulmões claustrofóbicos

preso desesperadamente

Sou a linfa fremente

serpenteando em galerias profundas

gritando freneticamente

Sou olhos lacrimejantes

de estalactites cristalinas

gotejando pacientemente

Sou um coração ardente

encerrado numa gruta gélida

de azul transparente

Sou um homem coerente

sou um ser consciente

acorrentado limitado sufocado

Abro as janelas de minha casa

mas não consigo romper

a rima do meu próprio eu

Choro um choro plangente

para ouvidos moucos

Grito: Preciso me libertar!

Preciso deixar o sangue aflorar,

o ar sair, a linfa escoar, o verso correr,

os olhos sorrirem, o coração amar.

Maria Angela Alvares Cacioli
Enviado por Maria Angela Alvares Cacioli em 12/09/2012
Código do texto: T3878448
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