CAVERNA DE CARNE
Sou o sangue pulsante
apertado numa veia curta
de vermelho quente
Sou o ar convergente
para pulmões claustrofóbicos
preso desesperadamente
Sou a linfa fremente
serpenteando em galerias profundas
gritando freneticamente
Sou olhos lacrimejantes
de estalactites cristalinas
gotejando pacientemente
Sou um coração ardente
encerrado numa gruta gélida
de azul transparente
Sou um homem coerente
sou um ser consciente
acorrentado limitado sufocado
Abro as janelas de minha casa
mas não consigo romper
a rima do meu próprio eu
Choro um choro plangente
para ouvidos moucos
Grito: Preciso me libertar!
Preciso deixar o sangue aflorar,
o ar sair, a linfa escoar, o verso correr,
os olhos sorrirem, o coração amar.