O amanhecer
O amanhecer
Olho pela janela e a manhã vai chegando, cinzenta!
A manhã, bem manhãzinha, pode ser cinzenta.
Imagino que na Central do Brasil,
Os primeiros passos se acomodam nas calçadas.
As moscas buscam alimentos espalhados, pelo lixo nas ruas....
As prostitutas indo embora, exaustas,
Sugadas pelo sumo da noite!...
Os alcoólicos, dormem o sono dos desesperados
Os insones sonham acordados....
E os muito doentes, pedem inconscientes, à morte...
É de manhã e a vida começa lá fora...
Os mendigos se levantam...
Soltando o hálito...poluindo o universo...são tantos...
E escrevo em versos, meus desencantos,
E minhas torturas íntimas que percorrem veias e artérias
Pelas ingratidões dos seres que sempre dei as mãos...
E lágrimas rolam pela face...
Golpearam-me...com facadas silenciosas...abstratas e absurdas.
Onde o sangramento sem corte, não tem poder absoluto sobre Mim...
Nada tem poder sobre mim...Cuspo tudo em versos...
Sou rei absoluto das minhas vitórias e covardias
Não me menospreze, não tens esse poder...
O brilho só existe nas estrelas, somos meros coadjuvantes...
Por um instante, achei que te encontrei e por outros instantes...
Perdi-me-me entre as faces obsoletas do absurdo.
Nada existe em cima do muro, onde só cacos sobrevivem...
cacos...
O que chamam de restos é uma questão de sobrevivência....
Quem não quis sair ileso do "Titanic"?!...
É de manhã e a vida começa lá fora...
Pelas portas das boites, ainda escapa
A fumaça tragada pela garganta da noite.
O porteiro esboça um bocejo.
Imagino coisas que não vejo
Como se estivesse sentindo agora.
Estrelas se escondem, ofuscadas
Pelo viso da manhã.
No brejo, dentro d'água,
Solitária rã, procura companheiro.
Na alcova, os amantes, em orgasmos alucinados...
E os ratos, descendo nos bueiros.
Nos andaimes, subindo, os pedreiros.
É de manhã e a vida começa lá fora...
Os porteiros noturnos, vão embora
E os diurnos, vão chegando...
As domésticas, cansadas, levantando.
O gato preto no telhado, sente o cio
De uma gata-malhada, que está bem distante.
Há um abismo, entre os telhados
Que impede esse encontro.
As nuvens, em desenhos ritmados
São as donas desse céu que se levanta.
A manhã vai chegando tão cinzenta
Que o olho da noite, se espanta
E destronada, a soberana, vai embora...
É de manhã e a vida começa la fora...
Tony Bahia.