AQUELA CASA

Hoje fico sentado aqui na sala,
acompanhado dos fantasmas próprios dela.
Eu estive aqui anos atrás, de um jeito
que imaginava pudéssemos ser os dois.
Não havia, então, o desconforto das ausências.
Havia sonhos, uma gargalhada, talvez
um meio sorriso ingênuo e a madrugada,
que permitíamos apenas num depois.
A constrangedora janela a nos espiar
nús; o amanhecer feito porto,
sempre de chegada. Havia, na casa,
uma cumplicidade atônita, uma possível
surpresa; uma irrealidade de essências
esgotadas em pequenos gestos de
se dar.
Minúsculos detalhes, uma asa de xícara
quebrada num brinde de espumante,
gotas postas em locais inusitados.
Uma explicação necessária, razão descartada
e mais,
o encontro desigual de motivos e desejos.
Desarmonia em tudo a nos manter ligados,
exceto o destino.
Um concerto, uma ária, um menino.
Uma dor, um passado, um desatino.
E somente hoje volto a esta sala,
onde persistem apenas fantasmas.

 
Nelson Eduardo Klafke
Enviado por Nelson Eduardo Klafke em 09/09/2012
Reeditado em 31/07/2014
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