Cacique de Guaiviry
Foss’eu levar um adulto,
velho ou criança
me afamaria canibal,
se o homem branco é quem leva
sequer há condição
de julgá-lo cultural.
Foss’eu matar um presidente,
prefeito ou governador
gritariam por “justiça”,
se matam eu mesmo, um cacique
calam-se jornais, políticos:
os índios não rendem notícia.
Foss’eu matar um papa
pastor ou cardeal
enquadrariam os “ateus”,
se matam eu, a xamã
calam-se igrejas, fiéis:
os índios não servem a(pra) Deus.
Foss’eu escrever
neste momento covarde
que o branco me obriga a partir,
diria: sei que a luta
não se faz com o umbigo,
é coletiva e vai prosseguir
pois companheiros de causa,
mesmo que roubem meu corpo,
entendem:
a minha presença, meu grito de luta
desta, sofrida matéria,
transcendem:
“Guaiviry é Terra Indígena,
em frente,
meu povo,
enfrentem!”