A flor do Pântano
Nasceste. Não sabes como
nem por quê.
E perguntas ao vazio,
sem respostas.
Onde? tu mesmo respondes.
Rompeste o solo do interior de lúgubre
pântano. Venceste.
E agora?
Pequena flor pálida e frágil, destoas de todas as congêneres
deste lugar.
És a melhor daí?
Tens o sopro das noites e o calor dos dias.
ouves o canto dos pássaros e o rugido dos animais.
Um rasgo de sol, uma nesga de chuva a fará crescer.
Para quê?
A vida pulsa.
E o teu caule, e as tuas raízes e folhas
insistem em crescer
e agora, o que farás?
Te libertarás de teu invólucro,
passeará alhures,
conhecerás jardins,
farás amizades,
trocarás idéias?
Pensarás livremente,
desejarás ardentemente,
sonharás intensamente,
amarás incondicionalmente?
Ou te prenderás à solidez de
tuas raízes, alegarás medo ante a ameaça de extinção,
caso abandones o solo.
Te lamentarás em choro incessante
a suposta imobilidade,
onde estacionas?
Negarás o ambiente ao seu redor,
maldirás seu nascedouro,
supondo virtude ou superioridade em sua
imaculada palidez?
Serias a melhor daí?
A vida pulsa.
E sentes a falência de tuas forças,
a decrepitude de teu invólucro
chegar.
Por que viveste?
A vida pulsa. Sempre.
Nasceste flor pálida em
lúgubre pântano,
e ignoras a chance de amar
e ser amada, exteriorizar-se,
libertar-se,
interagir com o próximo
e florescer...
Procriar. Deixar um pouco de ti
no solo inerte. Semente.
Legado ignoto de amor.