João Alípio
Foi ele quem me deu régua e compasso
orientando os meus primeiros passos
na arte-literatura.
Num tempo nebuloso de censura
ele abria as portas do paraíso
com os textos magníficos que lia.
Antes de abrir os livros e apostilas
ele abria uma garrafa de aguardente
e ficava muito aceso com aquilo.
Mostrava orações adjetivas
em versos de Camões e de Bilac,
explicava a semântica de Dante,
viajava de Petrarca a Drummond,
saudava as pessoas do Pessoa,
mostrava as coisas belas de Florbela,
gargalhava com as loucuras de Gregório,
e repetia: genial foi João Cabral!
Ele foi o melhor dos cicerones!
Ele era um bebum admirável,
meu grande mestre de literatura.
Para a aula virar uma aventura
recheada de gracejos e chalaças,
bastava entornar uma garrafa,
bastavam uns três goles de cachaça.