Cordelistas
Nas feiras e nos mercados
em criança eu vendia
os “rumanços” de cordel
que o poeta escrevia.
Eram lindas narrativas
em forma de poesia
que eu decorava e cantava
pra atrair a freguesia.
Narradores talentosos
da cultura popular,
os autores de cordel
andam de lá para cá
cultivando a tradição
que veio de além-mar.
Cordelistas consagrados
sabem contar e encantar.
Eles sabem transformar
qualquer tema em sensação:
o sapateiro da esquina
a vizinha do portão
capricho de gente rica
folhas caídas no chão
romeiros do Pade Ciço
proezas do Lampião.
Contam causos empolgantes
de intrigas e disputas
de bêbados na sarjeta
de fofoqueiros na escuta
de briga de namorados
do alto preço das frutas
de políticos safados
de cabarés e de putas.
Em rimas bem marteladas
e folhetos ilustrados
falam da seca inclemente
sertanejo castigado.
Ironizam os costumes
criticam o que é errado.
Crenças, lendas e milagres
tudo entra no traçado.
Drummond, José Lins do Rego
aprenderam com as histórias.
Também o Guimarães Rosa
guardou tudo na memória.
João Cabral de Melo Neto,
idêntica trajetória.
O Ariano Suassuna
fez do cordel sua glória.