O mercado

Prenúncio de madrugada.

nos degraus que vão ao rio

a noite está debruçada

titiritando de frio.

Da praia sobem caixotes

carregados de limões,

enquanto os homens, aos lotes

carregam desilusões.

Andarilho da orfandade

órfão de pão e de amor,

o povo vem da cidade

celebrar a sua dor.

Vem dos bairros, das usinas,

mulheres, velhos, meninas,

operários, tecelões,

vêm cantar as suas penas

olhando as caras serenas

e gordas de seus patrões,

comprando filés rosados

que aos trancos são arrancados

do seu lombo e seus tostões.

Na banca do verdureiro

o homem conta o dinheiro

minguado da escravidão

seu salário democrático

que lhe paga o aristocrático

patrão da vida e do pão.

olha os tomates maduros

saúda a carne distante

e passa humilde, adiante,

para o festim dos monturos.

Prenúncio de madrugada

nos degraus que vão ao rio

o povo mastiga a aurora

titiritando de frio.

Farias de Carvalho e Cartilha de bem amar com lições de bem sofrer
Enviado por Professor Guedelha em 06/09/2012
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