O mercado
Prenúncio de madrugada.
nos degraus que vão ao rio
a noite está debruçada
titiritando de frio.
Da praia sobem caixotes
carregados de limões,
enquanto os homens, aos lotes
carregam desilusões.
Andarilho da orfandade
órfão de pão e de amor,
o povo vem da cidade
celebrar a sua dor.
Vem dos bairros, das usinas,
mulheres, velhos, meninas,
operários, tecelões,
vêm cantar as suas penas
olhando as caras serenas
e gordas de seus patrões,
comprando filés rosados
que aos trancos são arrancados
do seu lombo e seus tostões.
Na banca do verdureiro
o homem conta o dinheiro
minguado da escravidão
seu salário democrático
que lhe paga o aristocrático
patrão da vida e do pão.
olha os tomates maduros
saúda a carne distante
e passa humilde, adiante,
para o festim dos monturos.
Prenúncio de madrugada
nos degraus que vão ao rio
o povo mastiga a aurora
titiritando de frio.