Coração

Meu coração é um velho alpendre em cuja

Sombra se escuta pela noite morta

O som de um passo e o gonzo de uma porta

Que a umidade dos tempos enferruja.

Quem vai passando pela estrada torta

Que leva ao alpendre, dessa estrada fuja!

Lá só se encontra a fúnebre coruja

E a Dor, que a prece ao caminhante exorta.

Se um dia abrindo o casarão sombrio

Um abrigo buscasses contra o frio

E entrasses, doce criatura langue,

Fugirias tremente vendo a um lado

A Crença morta, o Sonho estrangulado

E o cadáver do amor banhado em sangue!

Jonas da Silva e 1902
Enviado por Professor Guedelha em 06/09/2012
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