O Sigilo do Poeta
Florais que não se ouviam
cresciam dentro às escuras
Duas fases solares
arcaicas orbitas.
Com o mesmo brilho dos olhos
Sufocados ao beijo
Sou ferro enferrujado
Resistindo a maresia
Manchado de dias e noites acendendo e apagando.
Flor que se esmigalha nas mãos
Um rumor de sementes ao vento
Um verbo a lamentar.
Cresce na língua mais não é voz
apenas silêncio e saliva.
Trancados no cômodo da boca
Atrás de dentes num sorriso.
Atravessa a cidade
Mudo no ápice da língua
Lindos sonhos dourados
Veloz alegria
Fecho meus olhos para ser quem sou
Entranhas estranhas que abito.
Atrás das pálpebras uma cidade inteira se movendo
Florida de feridas
Nos braços do anoitecer.
Na carne do poema as chamas do sistema
Escondo-me no véu me turvo
Na bruma.
Entre as frestas da noite
Flor feroz da contemplação
Afundou-se em mim com raízes
Tão frias como infernos congelados
Estou morrendo lá dentro
Nuvens negras florescem no meu terno
Corolas me dão as mãos
O espelho sumiu com minha face
Sigilo do poeta
No paletó diurno de napalm laranja
Cores do verão
Florescendo em silêncio
Na dor dos olhares.