QUEM ESTA DIANTE DE MIM?
A noite foi longa
Posso ver você diante de minha porta
Esta cansada... Posso ver!
Tem a face exaurida e contraída
Traz o coração maculado
Dolorido...
Tantos pecados naquelas trevas
Tantos erros que não serão mais esquecidos
A noite ontem foi longa
Eu vi você desmazelada em minha cozinha
Tao perdida e taciturna
Tao pequenina
A cidade rosnou para você com seus neons e prédios
A cidade infestou seu corpo com doenças e pústulas
Posso sentir em você o fedor das ruas
É o cheiro da noite que trouxeste contigo
Você passou os umbrais mais sombrios nesta noite que viveste
E passou sozinha
Oh menina... por onde quer que você vá...vais só
Esta tão frágil
Tão tremula
Cabelos desalinhados e lábios borrados
Vestígios do teu batom?
Será sangue esta mancha rubra que vejo em tua boca?
Estremeço diante da possibilidade da resposta
Viro o rosto
Não quero deixar nossos olhos se encontrarem
Não quero saber o que a noite deixou em você
Não quero chorar...
Você não fala...
É toda silencio na imaculada brancura da cozinha
Gestos contidos e tristes...
Carne dos braços tremendo
Oh oh Deus ontem a noite foi longa
O que foi feito de você?
O quanto de seu realmente bateu hoje em minha porta?
Quem realmente esta diante de mim nesta mesa?
O café forte fumega na xicara escura
Duas mãos alvas a envolvem...
Dedos tão finos
Tao delicados...
Quem realmente esta aqui? (meu cérebro grita insistentemente a pergunta)
Não posso olha-la
Não quero olha-la
No fundo dos meus olhos sinto a ardência crescendo
Sinto a urgência surgindo
Diante de mim você esta quieta
Apenas espera
Não posso... não quero
(quem realmente esta aqui?).
Impotente ergo o rosto
Lagrimas quentes descendo em minha face
Ali esta você...
Olhando-me...
Olhos vermelhos de horas insones
Lagrimas em teus olhos também
E então eu vejo...
Não tem nenhum monstro
Não há estranhos aqui comigo
Só há você
Seu sorriso me diz...
Ainda que diante de tanta dor...
Aqui comigo...
Ainda esta a minha menina.