As cãs

Um velhinho caminha na calçada

apoiado na bengala, lentamente.

Tem o ar respeitável de quem sabe

muitas coisas sobre as coisas deste mundo.

Um jovem o saúda, respeitoso,

outro passa e prefere ignorá-lo,

alguns se afastam para lhe dar passagem

e ele segue rumo à meta desejada.

Aquelas cãs, que histórias elas contam

no silêncio da sua branquitude?

Quantas vivências elas testemunham?

Sabem o segredo da longevidade

não escrito em leis e estatutos?

Sabem o preço da serenidade

ante as fraturas que o tempo provoca?

As cãs são a coroa da velhice,

profecias de alerta à juventude.

Saber envelhecer sem ficar velho

pode ser muito mais que eufemismo.

É a vida vivida intensamente

em cada fase, em todos os momentos,

se é para envelhecer que nós nascemos!

Manter a chama acesa é preciso,

pois é nela que a honra se ilumina.