Letárgico e Liberto

Meus gritos já são de silêncio

e reverberam nas grutas

onde me retiro do mundo

e mergulho nas entranhas da terra.

Minhas lágrimas já secaram

e meu choro é a dor do homem

que labuta de sol a sol calado

encurralado pela fome da sua alma.

Meus reflexos já não quebram os espelhos

mas decepam minhas ignorâncias

e cegam meus olhos de cristal

e eu caminho somente pelo tato.

Meu coração já é cansado

sorrateiro e noturno ele transborda

versos coerentes e as vezes insanos

e meu sangue sufoca nos átrios.

Minha alma já não que morar aqui

ela quer voar e voar, pelas artérias siderais

e brilhar todos os sóis e diamantes

nessa planície de verdades irreais.

Minha poesia já é minha espada

afiada ela corta os laços terrenos

e ecoa em quietude pelo templo

onde eu renasci eternas vezes.