ANIVERSÁRIO
ANIVERSÁRIO
Se acaso viesses aqui
Pelo rumo que jamais tomarás
Verias todas as coisas que negaste
A ti pelo simples não vir
As cartas que não escreves, recebes
Amarelecem no escaninho
O carteiro, todos o conhecem,
Que não grita meu nome
Eu na sacada
Deposita um sorriso ligeiro
De lamento e devastação diante o portão
Sabendo que não vens
Apronto quartos, flores
Nos jarros espalhados
Pelo interior da morada
Após, sento-me defronte ao corredor
Esperando que esturriquem
No calor que já não faz há muito
Digo adeus
Como o vento às pedras
Após erodi-las
Quando abro marcha
Pelas campinas que não verás
Sabendo-te distante
Converso com as folhas, como fazias
Aceno a quem não conheço
Descubro trilhas que dão a lugar nenhum
O trem que não pára nesta cidade
Traria tua imagem –Tu não virias
Para que contemplassem todos
Que não sabiam que existias
Telefones tocam solitários
Em quartos outonais
Sabendo que podes estar ligando
Para quem já não existe
Que na verdade apenas ligas
Sem real interesse em que atendam
Não me ergo da cadeira antiga
Ouço a campainha insistente
Descansando a mão que fuma
Meu pensamento passa por janelas abertas
Até esfarelar algum bilhete amarelado
Que não escreveste na data apagada
Meus lábios estão secos quando a mão descarna
O vento que diz adeus às rochas que visita
Carrega consigo tudo o que não se evita
Amainando as palavras que seriam ditas
Só há suavidades neste lugar
Que não verás pela falta de tempo
Que inventaste para evitar umidades
Todos, crentes de que não vens
Esperam inutilmente em lembranças
De braços abertos aguardam
Sabendo que não embarcarás para cá.
A mão exasperada ergue o fone
Todo o frio desse verão enregela
Mergulhas, sorrelfa, numa queda
De pura angustia e desencanto
Embora saibam inútil
Vão saindo aos poucos,
Esperança dizendo não
Fecho a porta. Sou o último.