O POÇO
O POÇO
De repente, na alma
algo se dobra, verga
parte-se
Desorientado, sem setas
pare, prossiga
Sem voz, estaciona em vida
Só. Lucidamente só.
O lúcido deixa de ser lógico
O lógico deprime
Mas esse verbo você não conhece.
Aí vem o Poço
Primeiro é a borda
Depois, o vácuo
A queda
É quando vê as cores do Poço
As faces do Poço
A intimidade do Poço
Úmido e frio
Você está dentro
Do que estava fora de você
Sem ter como se amparar no vazio
Na queda lenta, vai observando
Os sinais do tempo de abandono
As marcas da água
Os vermes que lá habitam
Fungos que crescem e vegetam
Você está no Poço
Intrínseco à sua loucura
Parte física do Poço
Sem que queira, torna-se
parte úmida, escura
e triste da nova realidade
Antes do mergulho
no pequeno mundo
de águas escuras
você percebe a verdade
a verdade do Poço:
Eu sou o Poço
Algumas gotículas d´água
Respingam as paredes úmidas
Quando o corpo se imobiliza
No lodo
Na simula de lago
No Poço.