DO MEDO
DO MEDO
Não há nada
O que há
O que verdadeiramente existe
É o medo
Esse sentimento universal
Que nos irmana
E distancia
Que faz com que eu te mate
Ou abrace
Dependendo do peso do medo
Não há tudo
O que há é esse
Excesso de coragem
De segredo
Que nos faz velar
Noite após noite:
O que com maior zelo guardamos
É o medo com que nos matamos
E nos consumimos
E nos entregamos a esse outro
Corpo túrgido de medo
Ao lado
O que vive
É o medo
O medo de estar calado
De estar só
Principalmente de estar só
Sem uma mão medrosa
Que nos afaste os cabelos
Da testa perolada de medo
Há o medo de acordar
amanhã cedo
de enfrentar o patrão
e horário
sem nada erguer em nome
do universo
por causa do salário
somos filhos do medo
pais do medo
nossas crias, decerto
investirão no futuro
irão ao espaço
encontrarão civilizações
E lá, nesse lugar
Alguém estará segredando
A um papel confessor
Que o que há é o medo
Essa incrível ausência
De amor.