Sob o sol de uma paixão
Deixe-me gritar ao sol de Platão
a paixão que escondo
comigo
numa manhã qualquer de verão
deixe-me fechar os olhos
e te ver de novo
- mais uma vez -
sentir o teu corpo
e me realizar...
Deixe-me gritar ao sol de Narciso
a paixão que reflito
em ti
numa manhã qualquer de fevereiro
deixe-me fitar o meu rosto
até enxergar o teu, inteiro
- mais uma vez -
cair no teu leito
e me afogar...
Deixe-me gritar ao sol de Afrodite
a paixão que transborda
de mim
numa manhã qualquer do calendário
deixe-me perder os sentidos
viver o irreal e o imaginário
- mais uma vez –
perder o caminho
e me encontrar...
Deixe-me gritar ao sol dos tolos
a paixão que finjo não existir
de fato
numa manhã destas, qualquer
deixe-me ouvir os gritos roucos
que não proferimos
- mais uma vez –
estar contigo
e me saciar...
Deixe-me estar apaixonado.
(unilateralmente?)
Pois não será toda paixão unilateral?
Porque se a paixão tranca uma porta,
ela torna outra aberta,
se mata de amores,
ela também faz renascer...
se condena,
ela também redime...
porque se a paixão aprisiona,
ela também tem o poder
de nos tornar mais livres...