Luto

Nada me faz mais calado,

Nem mais impotente,

Do que essa dor tantas vezes vista,

Em olhares conhecidos ou anônimos.

A mesma dor das coisas que se perdem,

Sugadas nesse ralo que se chama tempo,

Que podem ir-se tão simples como um instante,

Ou em meio a terríveis batalhas.

O que dói não é tanto o que foi mais complexo.

O que fere mesmo, de verdade,

É a saudade que de repente chega,

Daquilo que era mais simples e menos notado.

É o que no final nos deixa sozinhos com o sofrimento,

Segredos não compartilhados,

Embora escancarados,

Mas que poucos notam antes que seja tarde.

Presente que ao humano, sempre em guerra,

Traveste-se de indiferença

Até que avança às cegas seu gládio,

Mas já não tem o escudo pretoriano

A lhe guardar o frágil flanco.

Enquanto desce solene o esquife,

Sob aplausos e orações,

Emudeço na perspectiva da terra sombria,

Recolhendo despojos de um frágil contentamento.

Como nos custa aprender,

Quantos lamentos e lágrimas,

Que estranha maneira de saber o valor das coisas,

Para em pouco tempo esquecer...

E tudo transforma em saudade,

O sabor para sempre perdido

Um certo jeito de abraço,

O esgar de um sorriso.

Fica o luto,

Esse amontoado de negligências,

Transformados em lamentos,

E uma saudade autêntica, enfim.

Marcelo FAS
Enviado por Marcelo FAS em 03/09/2012
Reeditado em 03/09/2012
Código do texto: T3862948
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