Luto
Nada me faz mais calado,
Nem mais impotente,
Do que essa dor tantas vezes vista,
Em olhares conhecidos ou anônimos.
A mesma dor das coisas que se perdem,
Sugadas nesse ralo que se chama tempo,
Que podem ir-se tão simples como um instante,
Ou em meio a terríveis batalhas.
O que dói não é tanto o que foi mais complexo.
O que fere mesmo, de verdade,
É a saudade que de repente chega,
Daquilo que era mais simples e menos notado.
É o que no final nos deixa sozinhos com o sofrimento,
Segredos não compartilhados,
Embora escancarados,
Mas que poucos notam antes que seja tarde.
Presente que ao humano, sempre em guerra,
Traveste-se de indiferença
Até que avança às cegas seu gládio,
Mas já não tem o escudo pretoriano
A lhe guardar o frágil flanco.
Enquanto desce solene o esquife,
Sob aplausos e orações,
Emudeço na perspectiva da terra sombria,
Recolhendo despojos de um frágil contentamento.
Como nos custa aprender,
Quantos lamentos e lágrimas,
Que estranha maneira de saber o valor das coisas,
Para em pouco tempo esquecer...
E tudo transforma em saudade,
O sabor para sempre perdido
Um certo jeito de abraço,
O esgar de um sorriso.
Fica o luto,
Esse amontoado de negligências,
Transformados em lamentos,
E uma saudade autêntica, enfim.