(Ir)real
Sim, perco a palavra justa
Meu coração alarga-se quando
O sol dá uma de meio-dia
E tudo que mantenho em segredo
A minha prece silenciosa e tão a ermo
É o doce balançar das horas
fugindo dos meus desejos
Onde sou sombra derrotada pela claridade
de um comboio triste em retirada
Margem de estrada empoeirada
que me faz pausadamente leviana
Em cortejo
em marasmo
em saudade
em vida eirada
Falta-me tudo
Preencho-me de nada
Perco a linha seguinte
Fui quase
do tamanho da minha luta
Onde cal, útero, larva
se misturam
Sem alívio, sem pudor,
Estou a sós com meu medo
Agiganto-me
Nesta terra do nunca
Cubro meu amor de mundo
Remeto-me ao pequeno sonho
De inventar o meu escuro único
Vestida de pó translúcido
Anfiguri e avulsa
A vida surta
Meu coração nunca em definitivo
O símbolo desaprendido
O objeto destituído
Pela via do desejo
Devolvo-me à pedra bruta
Vejo-me
porosa e resoluta
Só hoje
O Real chegou mais cedo