O rio segue

Quem está vivo convive

Com o arremesso do destino

Senta na areia da praia e perscruta o maremoto

Quem está vivo é como se morto estivesse

E faltasse apenas o aviso

Há sempre um túnel obscuro

Espreita-nos, invariavelmente, o susto

Espia de longe o adeus

Canta na linha do horizonte a alma de um tenor

E viaja em um veleiro fantasma a figura de uma atriz

Quem morto está vive nas bolhas de ar pelo Universo

Quem ainda não existe, avisado esteja

Aqui se encontram as cotovias negras do Mal

Aqui as flores são incineradas

A essência do ser humano posta em ferraduras

As mãos atadas

Os pés trucidados

A procissão púrpura se alonga pelo resto dos dias

E as horas não passarão até a Eternidade

Até que algum poeta escreva os mais cortantes versos

De saudades

***