O rio segue
Quem está vivo convive
Com o arremesso do destino
Senta na areia da praia e perscruta o maremoto
Quem está vivo é como se morto estivesse
E faltasse apenas o aviso
Há sempre um túnel obscuro
Espreita-nos, invariavelmente, o susto
Espia de longe o adeus
Canta na linha do horizonte a alma de um tenor
E viaja em um veleiro fantasma a figura de uma atriz
Quem morto está vive nas bolhas de ar pelo Universo
Quem ainda não existe, avisado esteja
Aqui se encontram as cotovias negras do Mal
Aqui as flores são incineradas
A essência do ser humano posta em ferraduras
As mãos atadas
Os pés trucidados
A procissão púrpura se alonga pelo resto dos dias
E as horas não passarão até a Eternidade
Até que algum poeta escreva os mais cortantes versos
De saudades
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