Onde estavas?

Onde estavas quando te procurei?

Oh! lua que na noite apascenta estrelas

e colhe uma mão de beijos suavíssimos,

colhe pétalas de carinhos a recriar o mundo

Onde estavas quando o vento passou

derrubando as folhas e as flores

e meus sonhos no chão?

Oh! lua que na noite crava seus punhais de prata

no ar soluçante que busca teu nome nas madrugadas,

busca teu nome nas palavras indecifráveis

com as quais disse ilusão

já tendo nascido saudade

Onde estavas quando a aurora escorregou da madrugada

e no espelho que foi clareando uma gota de lágrima chorava

a tua ausência?

Oh! lua que na noite perfuma os campos de primaveras

acende a bruma entre as flores da primeva solidão,

entre os arcanos dos dias nascendo da inquietude das cores

fazendo-se e refazendo-se,

umedecendo o azul do céu com seus vermelhos e lilases

e o infinito da vida

palpitando a emoção da manhã

Onde estavas quando tudo que fomos ficou

na melancolia das dolentes letras

com as quais escrevo saudade

como quem bebe veneno?

Oh! lua que chove semeando o branco som da canção

e o quieto perfume dos jasmins

penetra o poema das minhas solidões,

deita em teu colo o meu cansaço,

depura a mentira dos meus dias

e adormece em teu seio minha ilusão

Oh! lua, onde estavas quando o sonho,

morto em silêncio,

jazia envolto na bruma extensa das palavras,

pássaros de uma primavera dissolvendo-se...

...na canção fragrante da tarde solitária?

Onde estavas,

quando em mim, subitamente, recrudesceu a dor antiga...?

Hoje já não sonho

Não canto a candura dos beijos... rubros frutos

À tarde já não me espera o crepúsculo,

nem os ventos de terras distantes

Hoje, nas minhas tardes, contemplo o som do mar na ilha,

os amanhãs que flutuam com as nuvens

e os devaneios que me transpassam a alma...

e nada mais