Apenas Saudade
Hoje quis chegar cedo em casa,
tirar a camisa e ficar andando descalço pelo quintal.
Admirando a lua, acompanhado apenas das palavras silenciadas
como um poeta triste e sem sono.
Um cigarro bem prensado nos dedos,
vinho gelado e seco.
Lembro dos teus olhos, do teu cheiro,
dos lábios finos, e do beijo doce,
do teu olhar inquieto e curioso.
Lembro das tuas mãos trêmulas,
da pele riscada por acidentes de moto,
e tatuagens sem sentido.
Me recordo de cada gesto suave,
e de todas as palavras que me feriram tanto.
O resumo de tudo; se emaranha com a enorme falta que sinto e,
claro; com a vontade de te ter de novo comigo.
De repente, quem sabe, tudo isso seja apenas saudade,
dessas que a gente sabe que passa.
Ih, caramba... Será que passa?
A lua está incrível, especialmente linda,
a danada hoje tá mesmo toda ‘amostrada’.
Às vezes acho que ela fica procurando a nossa história;
perdida por dentro de casa, em gavetas empoeiradas.
Na medida que vou recordando alguns fragmentos,
fico baixinho contando e recontando pra ela.
Ela, quem?… Hum! A lua pô!
Que não para de rir disso tudo,
mas sem fazer pouco caso, sem desdenhar,
não acha nada ridículo,
nem piegas, tampouco absurdo.
Afinal ela é a lua, apenas ouve e aceita.
E quanto a mim,
escravo de ti,
escrevo por ti e para ti.
Poeticamente posso me permitir
a ficar assim,
a amar assim,
em desperdício.
É, talvés tudo isso seja mesmo apenas saudade.
Apenas saudade ( Hélder Nóbrega)