BUEIROS
abacaxi e pedra ordinária,
qual o sentido
da vergonha
quando o que resta
é a expressão rasgada
da queda de um paraíso material,
quando a alma é um animal vertiginoso,
aonde o mar é a gema de uma revolta
de nunca alcançar o céu
e ainda assim leva o mundo nas costas
dia mais caminhada adentro
loucos feitiços apagam
o olhar apaixonado da manhã
e o resultado é a naufragada ética
quando carros deixam de funcionar
e os monstros festejam a chance,
quando bucéfalos derrubam cercas
e as estátuas dos mestres estão ocas
no dia em que sob o sol desvairado
de uma falsa primavera descubro o segredo
e dos bueiros começam os urros