Um minuto no labirinto

O silêncio move-se no labirinto

ao passar o vento e a noite falante,

a voz sem nome,

renitente

e demorada vai-se a divagar

aflita e confusa

impiedosa

treme

entre tormentos que o tempo teceu

Um tempo mais velho,

sombrio,

fala de agonias,

gorjeantes culpas,

infindos nevoeiros,

a encobrir as sombras,

como mantos a sufocar

a própria vida,

mirrada e abalada,

a duvidar da memória

prisioneira destas sombras que me acompanham

e que se insurgem em

antigos sonhos injetados de ira,

ajuntados a velhos preconceitos,

cismando desesperos,

a voz rude,

anacrônica,

sem nome,

e suas palavras saídas da neblina da memória,

lâminas insones,

vento a soprar as velas da sandice,

a falar quando adormeço,

triste suspiro ardendo enquanto morro

A fúria,

o delírio,

a alucinação,

tudo enlouquece

em solitário momento,

em horas longas que os meus olhos cegos os sustêm

neste tormento tão meu,

nesta dor que é tão minha

A insânia esvoaça lentamente

enquanto a tarde se finda em vermelhos

e o frágil ocaso derruba gotículas de orvalho negro

que tão sós ornam os céus e a lua

... no silêncio que se segue tudo se move

deixando a porta entreaberta para o próximo medo

Um minuto no labirinto,

antigas vozes,

vozes cativas de um mundo turvo,

um mundo trincado,

cacos ocultos na sina,

imagens saem de um passado onde os espelhos

não refletem mais,

são meros vultos disformes dissovendo-se em aflita agonia

queimam nas chamas da culpa o engano das lágrimas

e as sombras pousam a dúvida sobre meu peito,

sobre o deserto delirante da loucura

onde flutuam

e fustigam

os ventos monótonos

da solidão

e a Alma,

desconhecida,

faz-se epigrama

nesta voz incessante

como os ventos devassando

a dor e o perigo e a ilusão de viver

a soar cambaleante

e lentamente em mim

lentamente

Como os passos que andam nas noites

delindo entre pressagos medos

E abertas as portas a vida se dissolve

no ar fendido por antigas vozes vindas de qual passado?

Momentos dilacerados

primitivas tardes

porções de mim

poeira onde o amor se evola

no minuto a minha frente,

no minuto no labirinto

no barro esgarçado das paredes da casa

que enganava a fome de então

Neste labirinto (sinistro)

eu não sou eu

sou tristezas imortais

de um tempo onde os sentimentos fenecem sob saudades

escondidas em meio à bruma que encobre o dia,

a mágoa

e o sussurro incessante das madrugadas

debruçadas sobre a lágrima inamovível

de um poema que flutua à beira do ar que chora

pedaços de ilusão

com os quais vive-se a vida,

cativa dos mistérios,

longa

ou

breve

insondável quimera,

gota amara,

perfumadamente nua

profana e divina

flor levada pelos ventos úmidos do tempo atemporal

Quantas vezes ainda me matarás no mesmo sonho,

no mesmo engano?

Tão longos são os enganos da Vida

tão obscuros os segredos da Morte

que os meus olhos vêem, imprecisos,

na vida assim,

nesta loucura fremente,

que se entrelaça e torna aterrador

um minuto no labirinto