ALAFIM – ALEPH
Sou o sonho inacabado,
_ IDEAL DE LIBERDADE –
do Rei ZUMBI DOS PALMARES.
Eu, seria um PROTETORE,
sob o comando divino
do sagrado HANIEL
e seu grande general
o sábio IMAMAIAH
defenderia os direitos
dos seres injustiçados,
lutaria pela honra
de um povo escravizado.
Mas sou apenas, que pesar...
um projeto estagnado!
Meu criador, ai, foi morto
antes de haver terminado
esse meu corpo terreno
muito antes que pudesse
ter em meu rosto soprado
o som, a letra e o timbre
dando vida ao ser criado!
Ando, não posso voar,
minhas asas não construídas,
doem, são como feridas,
sob a pele enegrecida
dos meus magros ombros nus,
parecem chagas da cruz
de alguém martirizado!
Pensar como um adulto?
Para mim é impossível!
Sou apenas um projeto
de anjo, não completado.
Quasímodo, vestindo estopa,
caminhando atrapalhado,
descalço, sobre os espinhos
de malissa, unha-de-gato,
mandacaru, rasga-beiço,
olhem meus pés retalhados!
Qual é o meu alimento?
Só o desejo de ver
todos os grilhões partidos
enferrujando, esquecidos,
jogados no pó do chão.
Ver mãos livres e ligeiras
dos atabaques sonoros
mágicos sons destilando!
Pés firmes, troncos de cedro
jogando capoeira
nos terreiros, sem “sinhô”
sem pelourinho ou chicote
longe do mato, e
sem Capitão, a cantar:
“Câmara, água de beber,
faca de cortar ô lê lê...”
A Lei não pune o covarde,
deixa livre os criminosos!
Oh ... ela, coitada, é cega...
E sem relutar me pune:
Você NÃO PODE VOAR!
Quem dera ter o conforto
de um milagre acontecer:
um raio do sol descer,
nele ZUMBI retornar
para completar seu trabalho...
e qual Oulissa, satisfeito
olhando-me, enfim, perfeito
num sorriso exclamar:
SARUÊ, ALAFIM ALEPH, SARAVÁ...