ROCHA MOUTONNÉE – DUALIDADE E SENTIMENTOS
Salto - estância turística -
guarda musa singular
que tem como característica
ser de pedra milenar
Da sua carne - róseo granito -
versos vou escavando
e do gelo em atrito
a inspiração entalhando
Minhas palavras contarão
algo triste e inusitado
de um amor impossível falarão
entre a rocha e seu amado
Foi de uma paixão paleozoica
entre a água e o mineral
que nasceu a estrutura geoica
em formato de animal
Lembra um carneiro deitado
seu contorno arredondado
daí seu nome importado
“Moutonnée” - acarneirado
A dinâmica do envolvimento
gerou terreno de abrasão
enquanto a geleira em movimento
à pedra mostrava afeição
O gelo a pedra lambeu
em dura carícia a poliu
depois de riscos a encheu
quando seu corpo cindiu
Na ânsia de segurar-se
arrancou-lhe o amante pedaços
na amada quis apoiar-se
e eternizar os abraços
Foi triste a separação
aflitas lágrimas rolaram
tais águas por erosão
calhas ondulares deixaram
A pedra marcada ficou
de fenda sulco ranhura
nas faces e flancos restou
do amor a arquitetura
Sua natureza é de rocha
porém ao ver adivinho
na estria que desabrocha
a sutileza de um carinho
Mora a viúva famosa
em parque municipal
ali cuida ainda saudosa
do seu leito conjugal
Tracei assim a silhueta
da tragédia que aconteceu
entre uma pétrea Julieta
e seu gélido Romeu