O RIO, A VIDA

Flui em curso modorrento

Na placidez e ao relento,

Expondo o leito cristalino

Tão límpidas as águas que carrega.

E, nas margens o verde ainda rega!

Este rio, no porte seu, quase menino.

Nas estreitas bordas sombreadas

Por árvores de folhas carregadas

Busco um breve frescor e o descanso.

Não observo as nuvens lá no céu, cinzentas

Que prenunciam tempestades e tormentas.

Despercebido quando o veio deixa o jeito manso.

O sono logo me abate

Por força alguma dou-lhe combate.

Horas passadas, quando desperto

Caudal imensa pelo leito avança

Sobre meu corpo, furiosa lança

Difícil a escapada, embora eu seja esperto.

Levanto e sobre-humano esforço faço

Mas duvido que me liberte do abraço

Letal da portentosa correnteza.

Face ao gigante que impiedoso investe

Inúteis apelos faço ao Celeste.

Minha corporal armadura desmancha-se em fraqueza.

Tento fugir. Sem escape, encontro-me aprisionado

Ao chão lamacento e emporcalhado.

Convencido de a hora limite haver chegado para mim

Rezo o que sei: Credo, Pai Nosso, Ave Maria

Para que seja adiado o final, ao menos por um dia.

Eis que me percebo sobre a cama. Ufa! agora acordei, enfim!

Alfredo Duarte de Alencar
Enviado por Alfredo Duarte de Alencar em 23/08/2012
Código do texto: T3845864
Classificação de conteúdo: seguro