O RIO, A VIDA
Flui em curso modorrento
Na placidez e ao relento,
Expondo o leito cristalino
Tão límpidas as águas que carrega.
E, nas margens o verde ainda rega!
Este rio, no porte seu, quase menino.
Nas estreitas bordas sombreadas
Por árvores de folhas carregadas
Busco um breve frescor e o descanso.
Não observo as nuvens lá no céu, cinzentas
Que prenunciam tempestades e tormentas.
Despercebido quando o veio deixa o jeito manso.
O sono logo me abate
Por força alguma dou-lhe combate.
Horas passadas, quando desperto
Caudal imensa pelo leito avança
Sobre meu corpo, furiosa lança
Difícil a escapada, embora eu seja esperto.
Levanto e sobre-humano esforço faço
Mas duvido que me liberte do abraço
Letal da portentosa correnteza.
Face ao gigante que impiedoso investe
Inúteis apelos faço ao Celeste.
Minha corporal armadura desmancha-se em fraqueza.
Tento fugir. Sem escape, encontro-me aprisionado
Ao chão lamacento e emporcalhado.
Convencido de a hora limite haver chegado para mim
Rezo o que sei: Credo, Pai Nosso, Ave Maria
Para que seja adiado o final, ao menos por um dia.
Eis que me percebo sobre a cama. Ufa! agora acordei, enfim!