QUEM ME DERA...
Quem me dera...
Ser mais das horas que das flores amarelas
Mais dos montes que das saúvas inermes
Mais da terra que dos vermes
Mais das uvas que das vinhas...
Quem me dera ser, mais a saudade das viúvas...
Que se sentem na estrada abandonada da ausência
Quem me dera ser mais dos óvulos que não regulas
Quem me dera ser o arrepio de tua languida derme
Quem me dera ser mais das retas que das curvas
Quem me dera ter mais o beijo verdadeiro de uma puta
Que o beijo da moça que luta pra aprender o que é a verdade
Que me dera ser mais o sumo fortificante da fruta
Que o da batata frita que não mata a fome
De quem quer sobreviver...
Quem me dera ser mais leitura que escrita
Ser mais candura que proscrita
Quem me dera trazer à tona a experiência das cabecinhas de algodão
Pra juventude de minha alma que pensa
Que o mundo é pequeno demais pro seu orgulho e sua mega paixão
Ah quem me dera ser a loucura das gaivotas
Que as garças volitando aos pares
Sem errar os alvos dos peixes na ilhota
Quem me dera ser o sino repicante
Amante das horas coloridas das tardes de domingo
Quem me dera pudesse meu coração
Sorrir lágrimas sonoras por suas sangrentas derrotas
Arrancarem-se os espinhos dos rosais
E em uma nota só musical já livre de meu idílio
Dizer lhe meu amor “Eu te amo demais”
Quem me dera ter teu rosto macio e delicado
olhando para mim deste imenso céu estrelado
Tivestes que partir e quando pro céu eu olho purpurinadas de azul
Tua suave tez eu me imagino só e crucificado no Cruzeiro do Sul...